
O que vamos ver agora retrata cenas de relacionamento familiar tendo como protagonista a criança que muitas vezes apresenta problemas de comportamento. Além do aspecto social, cognitivo, o psicológico principalmente tem sua grande importancia. No entanto estes fatos existem, estão aumentando e as consequencias estão piorando.
Quem são esses filhos, cujos pais problemáticos muitas vezes causam perturbações na ambiente familiar?
Filhos assustados, filhos inseguros, filhos amedrontados, filhos carentes, quem são voces? Quem são os seus pais?
A partir de agora vamos descobrir juntos, porque este mundo também é o seu.
Ser bom pai, boa mãe é um ideal muito profundo entre nós. Tanto que quando um filho não vai bem, os pais logo se preocupam em apresentar ao psicólogo uma espécie de atestado de boa paternidade. Chegam e vão dizendo: "a senhora mesma pode ver. Temos 4 filhos. Os 3 primeiros são ótimos, saudáveis, vão bem na escola, praticam esportes, nunca nos deram dor de cabeça. Então o que houve com este aqui? Onde foi que nós erramos com ele, se com os outros 3 acertamos tanto?" Na verdade, o que eles querem dizer é "aqui está nosso filho problemático. Culpa nossa não é".
Também não se pode dizer, "claro, com aquele pai, aquela mãe, coitadinha aquela criança; só poderia ter saído assim".
Pode-se dizer, que pais com um relacionamento conturbado entre si são capazes de ter pessoalmente, uma boa relação com o filho. Por outro lado, pais harmoniosos, ou aparentemente harmoniosos, podem ter um filho doente. Há casos até em que os pais só estão bem às custas de um filho que previsa cumprir o papel de doente da família.
Portanto, o que existe é este triangulo pai-mãe-filho e dentro dele, uma dinâmica de relacionamento que pode ser boa ou má, mas que é imprevisível. Com cada filho se estabelece uma relação diferente, é mais útil que aquele pai e aquela mãe tentem descobrir, junto ao terapeuta, o que está havendo com o vínculo único e intransferível que eles tem com aquele filho.
É vendo estes tres seres numa relação assim dinâmica entre si - recebendo e irradiando mensagens uns para os outros além do que dizem e fazem - que se pode entender o que se passa entre eles. E são mutas as composições possiveis. Pensemos um casal satisfeito com seus filhos, que cumpram as expectativas dos pais - são bons alunos, esportistas, alegres. Nasce o terceiro filho. No começo, tudo bem. Mas a criança não consegue cumprir as exigências no mesmo nível. Embora tente fazer tudo certo os repetidos insucessos a levam a uma crise de ansiedade porque os pais, até então afetivos, não mais conseguem suprir as necesidades desse filho.
Outra composição posível: os pais massacram um filho com altas expectativas, a que a criança se esforça por corresponder. Já os outros filhos, livres dessa pressão, podem achar mais facilmente o caminho de seu desenvolvimento.
Ou então, um dos filhos pode atualizar para os pais expêriências que eles não querem reviver, tornando-se como o espelho de uma situação desagradavel para os pais. Estes pais não querem agir mal com os filhos. Nem a criança quer criar problemas para os pais. É a maneira de ser de cada um a causa das dificuldades.
Outro exemplo. Um casal aparentemente feliz, perfeito. E o filho inseguro, carente, nervoso, tentando controlar um, controlar o outro, chantageando os dois. ele percebe que os pais não vivem bem, alías, há anos cada um faz sua vida fora de casa. Continuam juntos "por causa do filho", que vive apavorado com o temor de que se separem, sentindo-se respnsaveis pela união familiar. Há também o casal que quando está bem, os filhos sobram. Parece que a criança não cabe na felicidade deles. Quando brigam , a relação com o filho melhora.
Estes poucos exemplos dão uma idéia de como podem ser variadas as composições de relação no triangulo familiar. Por isso é que na prática, a boa relação com o filho não pode ser estabelecida com regras muito precisas. Ela é única e depende de fatores nem sempre controláveis. Há pais lucidos e organizados no trabalho, sábio com os amigos. Mas o que não podem é chegar em casa e dizer: ótimo, agora vamos ser lucidos e sabios em nossos papéis de pais. Não dá. A relação em casa é diferente. Ela é total, entram afetos, entram atrações e resistências deficieis de prever, a pessoa é tocada no seu todo. Em casa ninguém engana. Pensa que engana. Os pais podem até decidir: brigamos, mas só no quarto, os filhos não precisam saber. Ora , na hora de perceber climas conjugais o mais bobinho dos filhos conserta relógio com luva de box.
É impossível negar que os pais sejam os adultos mais significativos e decisivos na vida do filho. Uma criança não estrutura sua personalidade a partir do nada. Na medida em que os pais são os adultos mais sgnificativos da vida da criança, suas relações com ela serão fundamentais para seu crescimento. Vai ser sempre uma relação de gente com gente com seu componente de trocas e surpresas.
Dentro de um trabalho psicodramático, pode -se dizer a esses pais algo nem sempre facil de ouvir: o problema não é o que voce faz, mas como voce é, a questão não está em como voce pensa que age, mas no que voce transmite nesta relação.
O Psicodrama também permite uma vivência emocional corretiva, reproduzindo parte da dinâmica dos familiares originais dos pacientes e permitindo que a mesma seja trabalhada dentro de um contexto mais consciente e protetor, procurando melhorar a dinâmica familiar. Mas melhorar, aqui, não significa aprender novas formas de agir.Significa rever sua propria maneira de ser. Na medida em que os pais, por exemplo, se conhecem melhor e mudam as expectativas mútuas, a realção muda e consequentemente o psicodrama torna a criança aceitavel, seu comportamento aceitavel e por extensão faz com que as próprias crianças se sintam aceitas e valorizadas.