sábado, 17 de julho de 2010

Significado do Desenho Infantil

Um dos recursos que mais utilizo na prática do atendimento com crianças é o desenho, porque através dele a criança exprime emoções, opiniões, medos, duvidas e características de sua personalidade, temperamentos e carências.

Não é por acaso que os desenhos são ferramentas de trabalho precioso nas avaliações psicológicas infantis e terapias posteriores.

Dependendo do que a criança desenha, podemos descobrir e reconhecer as fases pelas quais a criança esta passando.

Entre os 2 e 3 anos de idade, a criança ainda não faz desenhos com significado representativo. Gradativamente a criança vai expressando traços mais significativos, entre os 2 e 3 anos o que se nota são traços leves ou fortes, pequenos rabiscos, etc.


Entre os 3 e 5 anos de idade, a criança já tenta desenhar de acordo com a sua realidade e conforme a própria percepção. É claro que ainda são traços sem grande expressão, mas que para a criança tem todo um sentido.

Observando os desenhos das crianças posso afirmar que os desenhos realizados por meninos são diferentes dos desenhos das meninas. Em geral os desenhos dos meninos estão mais ligados a ação e a força, sendo portanto mais escuros e até mais agressivos (podem incluir explosões, armas e monstros, por exemplo) e o das meninas estão mais voltados para a natureza e a serenidade, sendo mais contemplativos, belos e coloridos (incluem, sol, as nuvens, flores e personagens fantasiosos como fadas, por exemplo).

Por ser os desenhos matéria previlegiada no campo da psicologia, quero dizer que nem os professores ou educadores possuem treino para decifrar os desenhos. Mas eles podem nos dar algumas psitas, presentes nos desenhos das crianças que servem de alerta aos pais e professores para situações anormais. Entendo que a interpretação dos desenhos deve ser feita de acordo com a idade da criança e também de não avaliar o desenho isoladamente, mas de considerar para além da idade da criança, a sua personalidade, o seu desenvolvimento cognitivo e ainda o seu repertório de desenhos, ou seja, que se fale com a criança sobre aquilo que desenha.

ALGUMAS 'PISTAS':

- cores utilizadas e vivacidade das mesmas;
- força ou interrupção do traço;
- existencia de sombra;
- isolamaneto de determinadas figuras ou representações das mesmas numa escala muito reduzida;
- agressividade de determinadas figuras;
- a criança passa a desenhar, continuamente, cenários de violência;
- desenhar repetidamente a mesma figura;
- Se alguma figura é riscada, apagada e depois desenhada;
- desenha figuras sem cabeça ou sem rosto;
- não consegue desenhar-se a si próprio, uma imagem de familia, por exemplo;
- desenha cenários que não são adequados a sua idade.

ATITUDES FRENTE AS "PISTAS":

Não se apavore e nem proíba a criança de desenhar. O desenho tanto pode revelar algo negativo, como não. Mas independente da conclusão final, é sempre preferível saber e descobrir antecipadamente o que esteja menos bem na vida da criança.

É essencial manter um diálogo aberto sobre os desenhos infantis, sem recriminações, apenas muitos "porquês"! Procure descobrir a "história" por trás de cada desenho.

Se verificou uma ou mais "pistas" (da lista acima), é importante reunir os desenhos mais recentes da criança para verificar se existe uma recorrência desse padrão ou não. Se necessário marcar uma reunião com a professora, de forma a poder também ter acesso aos desenhos da escola.

Fale com a criança sobre os desenhos em questão tentando descobrir o que há por trás dos mesmos, ou seja, a criança pode não dizer-lhe exatamente o que se passa ou se passou, por isso seria necessário estar atento as "entelinhas".

Se os desenhos da criança continuarem a preocupá-lo, procure ajuda profissional.

Acima de tudo não desencoraje a criança de desenhar, isto é uma atividade lúdica, criativa e educacional que deve ser praticada, até porque seus benefícios são mais doque muitos.

ALGUNS SIGNIFICADOS DE ALGUNS DESENHOS:

Este texto foi retirado do livro: "Como Interpretar os Desenhos das Crianças" - da pedagoga Nicole Bedard - Edições CETOP; onde voce poderá obter mais informações sobre o assunto.

ÁRVORE: Refere-se ao físico, emocional e intelectual da criança. Quando o tronco da árvore é alto e largo revela que seu filho tem muita força na superação de problemas. Quando o tronco for pequeno e estreito, revela vulnerabilidade às complicações. Se houver excesso de folhas, a criança tem grande ocupações talvez em excesso. Se houver poucas folhas e galhos a criança esta trsite.

CASA: Desenho de uma grande casa, demosntra grande emotividade, se for uma casa pequenina seu filho demosntra que é uma criança retraída.

BARCO: Desenhar barco significa que a criança adapta-se facilmente a imprevistos. Barcos grandes revela que seu filho não gosta de mudanças e aprecia ter o controle da situação, se for pequeno seu filho é sensivel e tem grande intuição.

FLORES: Desenhar flores significa que seu filho é uma criança alegre e feliz.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

A Copa do Mundo - Aspectos Psicológicos do Futebol

Entre nós, futebol é um jogo que emociona multidões, ocupa em nossa cultura a função de esporte nacional e já nos deu cinco copas do mundo.
O futebol é um espetáculo coletivo que se torna ritualístico na medida em que se identifica os espectadores com o drama que se desenvolve no campo. Os jogadores são como personagens de teatro com os quais nos identificamos ritualmente. E o campo, na realidade, reúne dois grandes teatro de arena, sendo por isso um anfiteatro (anfi=ambos os lados). O circo, o cinema, as paradas, as corridas, os festivais de música e dança, as touradas e os demais esportes coletivos, são espetáculos onde o público pode participar através da identificação dramática. Esta identificação é proporcional ao entusiasmo demonstrado pela assistência. Prova disso é que, em inúmeras culturas, estes espetáculos existiam como um ritual propiciador dos deuses, como bem exemplificam os jogos olímpicos dedicados a Zeus. O gesto do jogador vencedor erguer a Copa no final é uma manifestação de glória e comunhão do indivíduo com o todo.
A finalidade do futebol é lidar com inúmeras emoções e conviver criativamente com elas, organizando-as em função do centro, isto é, do gol. E o goleador é o herói. Os jogadores de futebol são os heróis do povo, e o goleador é o maior de todos. É que, identificados com os jogadores no ritual dramático, sentimos que eles realizam proezas físicas e psiquicas tremendamente gratificantes. O gol do adversário é definido por um time igual ao nosso. Para chegar a ele, temos que nos defrontar com emoções e temores intensos, e temos que atravessá-los através do drible, do domínio de bola, da intuição, planejamento, ação, velocidade - tudo enfim que há de mais humano contra tudo humanamente igual. A imprevisibilidade do jogo faz com que toda sorte de emoções surja entre o herói e o gol. Com isso, a ação dramática dos 90 minutos é um processo de luta que uma pessoa tem na vida para atingir suas metas.
Um jogo de futebol é, pois, uma obra dramática. Nela o ser humano se lança, em meio as mais variadas peripécias emocionais, para marcar o seu gol. E o espectador vivencia as mesmas emoções que os jogadores. A torcida anima na medida em que empatiza e expressa as emoções dos próprios jogadores e é animada pelos jogadores porque o desenrolar do jogo apresenta a elaboração das emoções dos jogadores e da torcida. Terminado os 90 minutos, jogadores e torcida deixam o estádio para continuar elaborando durante a semana os grandes lances emocionais que juntos vivenciaram.
O futebol lida com emoções fundamentais, como, por exemplo, a agressividade, a competição, a inveja, a crueldade, a depressão, o orgulho, a vaidade, a humilhação, a amizade, a covardia, a rivalidade, o fingimento, traição e muitas outras. Praticamente todas as emoções humanas podem ser objeto de elaboração, aprendizado e controle durante um jogo.
A identificação emocional jogador-torcedor faz com que as emoções elaboradas pelo jogador o sejam simultaneamente pelo torcedor. Um time que se lança ao ataque em conjunto, ativa a coragem e a ambição do jogador-torcedor em busca do gol. Ativa sua inteligência, argúcia, intuição e criatividade. E o mesmo se passa com o adversário. Este confronto de qualidades humanas a serviço da invasão, por um lado, e da resitência, por outro, que logo vão se inverter num contra-ataque, desenvolvem enorme agressividade no ser humano pelo ímpeto de atingir o centro do outro time e marcar gol. A energia vital necessária para um jogador se lançar de corpo inteiro no ar para cabecear um cruzamento só é possível diante de um enorme espírito de luta. As frustrações inerente a maioria as jogadas, não raro acompanhadas de dor física nas entradas violentas, despertam também um intenso antagonismo e agressividade.
Exatamente pelo fato do futebol ser jogado com os pés, o fato do controle da bola ter que ser feito com os pés em momento de tão grande tensão, torna o controle das emoções na hora da jogada um feito realmente heróico do ponto de vista psicológico e até existencial.
A maior frustração que um jogador dá a sua trocida não é perder o jogo, é de ser expulso de campo por descontrole emocional. Psicológicamente, isso é significativo, pois até mesmo perdendo o jogador leva avante a sua evolução emocional. Atravessar a vivencia depressiva da derrota, jogando sem se descontrolar, é emocionalmente uma proeza ainda maior que a vitória.
Pode acontecer também, a ruptura da identificação jogador-torcedor. É quando o jogador se controla mas o espctador perde o controle emocional. O jogador realiza um esforço heróico de contenção que o torcedor nesses momentos não acompanha: ele berra, xinga, atira coisa no campo, ameaça, agride alguém na arquibancada. Outros torcedores podem entrar na briga ou invadir o campo. O jogo chega a ser interrompido ou até mesmo suspenso. Venceu o caos. Acabou-se o futebol. É cartão vermelho do espectador.
No afã de chegar lá também e de participar da luta o espectador em breve se recompõe e retoma a missão comum em direção ao gol. E o êxtase do gol é algo tão maravilhoso que por estado emocional algum torcedor pode perder. O feito do jogador permitiu ao espctador mergulhar no âmago da agressividade e voltar a tona sem se afogar, ou seja sem ficar possuído por suas emoções. É assim que se faz um desportista, e asim que se engrandece e amadurece a personalidade de uma pessoa.
O gol é espacial e emocionalmente o âmago do time. A área que o cerca, a "grande área", matiza a espaço à volta do gol com características espaciais - só dentro dela o goleiro pode pegar a bola com as mãos. A outra grande característica é que qualquer falta feita pela defesa dentro da área é uma falta máxima (pênalti) para a defesa, mas não para o ataque.
O gol é o maior símbolo do futebol. A vivencia de sofrer o gol e de fazer o gol se complementam e formam um todo emocional. Tristeza e alegria, frustração e realização são assim vivenciados como pólos inseparaveis do processo existencial. Esta lição de grande profundidade emocional é dos mais sábios e difíceis para um ser humano aprender durante o seu longo processo existencial.
O jogador e a torcida sabem que o gol não é um acontecimento lógico. Ele depende sempre da chance do destino, de algo ligado ao mistério da criatividade e da vida que transcende as leis de causa e efeito. Às vezes, o jogador tem tudo para marcar e não marca. Fala-se em magia, em fetiço, em "gol fechado". Ou então é dia do artilheiro "estar com a cachorra". E entra tudo. É a supertição querendo dar forma ao indescretível e explicar o incompreensível. Mas todos sabem que o gol surge como uma revelação, exatamente como as soluções nos misteriosos caminhos da vida. Às vezes, temos a premonição de que o gol vai ser feito antes mesmo do jogador chutar. É a vivencia profética, tão comum no futebol. Por isso, todo chute em gol é um ato de inspiração, de fé diante da qual o jogador e a trocida sabem que será " o que Deus quiser". Se não tiver de entrar não entra mesmo. Nesse sentido, acontecem gol inacreditáveis que trazem vitórias impossíveis e que proporcionam ao jogador-torcida vivencias milagrosas , inerentes ao tipo das vivencias misticas.
O gesto do juiz apontando o centro do gol é emocionante de todo o jogo, sendo complementada pela beleza do salto consagrador do artilheiro diante da torcida. É como se cada gol contivesse todo o mistério do jogo, terminasse de certa forma o jogo, que deve outra vez ser reiniciado, a partir do centro.
Os times entram em campo, são opostos e tudo fazem para golear e assim se tornam um fenômeno exemplar. Uma equipe ataca, outra se defende. Ao atravessar o time adversário, ao senti-lo batido, resta o goleiro que se defende com tudo. Ao vencê-lo também o goleador decreta a queda. É o confronto máximo de uma polaridade onde o vencido foi atingido no âmago mais íntimo do seu centro e o vencedor consagrou o poder penetrante do seu ataque. Para o jogador-torcedor identificado com a sorte do seu time, ser goleado dói no fundo do ser, para o jogador-torcedor goleador acontece a consagraçâo de todo o esforço desenvolvido. Quando alguém vence, alguém perde, e é isto que sempre une tristeza e alegria em tudo que ocorre de mais profundo no mistério da vida.
Do jeito que é praticado no Brasil, o futebol traz uma mensagen de desenvolvimento para toda a nossa cultura.Com nosso futebol criativo e solto, fomos penta-campeões do mundo, onde os brasileiros se identificam com o time solto para atacar ou se defender, para perder ou ganhar de muito. O Brasil, portanto, tem muito para crescer de forma integrada, conseguindo absorver e vivenciar oas grandes lances que já vive no samba e no futebol.