domingo, 28 de março de 2010

Era uma vez...

Estava voltando do meu trabalho para casa, quando resolvi entrar em uma livraria. Parei diante de uma estante, logo na entrada, que continha livros infantis. Na verdade buscava alguma inspiração em algum livro para realizar um trabalho com as crianças do hospital em que trabalho, quando algo me chamou atenção.

Atraz de mim ouço uma criança que aparentava seus cinco anos, acompanhada de sua mãe. Tinham aprência simples e de baixa renda. A criança entra, para olhar os livros e pede para sua mãe lhe comprar um que ela já tinha escolhido, ao que a mãe lhe responde: - "Claro que não. Pra que voce precisa disto? Vamos embora que no caminho te compro pipóca. E saíram da livraria.

Fiquei pensando nessa cena e com pesar concluí que para essa mãe, ler não é importante. É mais importante a pipóca. Sem questionar os motivos da mãe, atitudes como essa, desistimulam na criança o hábito de ler, ou seja, a leitura não é vista como parte da vida. Sendo assim pra que aprender a ler?

É dificil mesmo, esperar que as crianças de lares em que os pais não leem por lazer achem a leitura interessante ou importante. Todos os estudos sobre sucesso na leitura mostram que o melhor permite prevê-lo é o nível de aptidão literária dos pais. No lar, os hábitos se formam copiando os pais. Não basta que os pais leiam, eles também precisam gostar. Se os pais não gostam de ler, ou não dizem quais as vantagens da leitura, as crianças podem aprender a ler avisos, etiquetas, e anuncios na televisão mas não se tornam adultos letratados - ou seja, elas nunca acham que ler é importante, nem adquirem valores significativos na leitura.

O fato de crianças pobres ficarem para trás com relação as crianças da classe média não está inteiramente ligado à falta de quem leia para elas. É importante ler para as crianças, mas a maneira de falar com elas é mais importante ainda. Veja: a aptidão literária requer habilidade em seguir um discurso complexo impresso, uma habilidade que tem muito a ver com habilidade de falar. Com as crianças de lares culturalmente carentes fala-se uma linguagem truncada. Ouvindo uma mãe de classe média falar com o filho percebe-se uma ampla variedade na linguagem e na maneira de se exprimir, é um estudo bastante complexo.

No contexto clínico com crianças, estes fatos ficam muito visíveis. Diante de um trabalho realizado com livro de história e solicitadas a contar representando, as crianças expressam-se com pobreza, pouco criativas e sem espontaneidade. Mas o psicodrama pode reverte este quadro. Através de técnicas e jogos psicodramáticos vais resgatar a espontaneidade, estimulando e incentivando o gosto pela leitura, tornando a criança num agente transformador. E não é a toa que desse trabalho surgiram duas crianças "escritoras" que tiveram simbólicamente o lançamento de seus livros em grande estilo e com direito a autógrafo.

Sempre que puder fique na companhia de um livro, pois nunca esta só quem possui um bom livro para ler e boas idéias para refletir.

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